Por Gilvânia Banker
No Brasil, costuma-se dizer que o ano praticamente começa depois do Carnaval. E contabilizar os gastos com as folias, as férias, apurar os resultados e verificar o saldo do que entrou e saiu, e ainda planejar o que é possível investir, faz parte da contabilidade doméstica de cada pessoa. Em uma empresa, isso é ainda mais amplo, e ter o conhecimento de tudo o que acontece nas finanças da instituição e saber exatamente quais são os passos que ela deve tomar é tentar “prevenir do que remediar”. Na tentativa de desmitificar e valorizar a ciência que cuida da saúde financeira das pessoas e das instituições, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) entrou o ano com o tema 2013: Ano da Contabilidade, tema da campanha que busca valorizar a atividade e o profissional.
Eleito o tema da instituição, que conta com 27 conselhos regionais e o apoio de mais dezenas de sindicatos espalhados pelo País e centenas de instituições de ensino, o CFC irá focar nesse assunto durante o ano todo. “A contabilidade vem ocupando mais espaço e mostrando que é vital para todas as organizações, inclusive para as pequenas e médias empresas”, afirma o presidente do CFC, Juarez Domingues Carneiro. Desde que o Brasil adotou por completo as Normas Internacionais de Contabilidade, a carreira se destacou no cenário mundial.
Segundo ele, é a quinta profissão mais demandada no mundo, e isso a coloca em um momento muito especial.
Apesar disso, Carneiro diz que ainda falta o reconhecimento da sociedade de enxergar a área contábil como uma ciência mais ampla e que tem mais a oferecer do que apenas calcular tributos e registrar débito e crédito.
“Queremos fazer um realinhamento da imagem e da marca”, anuncia o presidente. O objetivo, segundo ele, é mostrar o que está acontecendo em termos de trabalho e serviços prestados em uma campanha de conscientização.
As ações de mídia começam a ser executadas a partir de março. A entidade já está presente nas redes sociais e criou, no Facebook, a página: 2013 – Ano da Contabilidade no Brasil, que já obteve mais de 100 mil acessos.
Segundo dados do CFC, existem no País, atualmente, 485.883 profissionais da contabilidade e 81 mil organizações contábeis. No Rio Grande do Sul, atuam na área 37.099 profissionais, entre contadores e técnicos em contabilidade, e 9.271 organizações contábeis.
Curso de Ciências Contábeis busca acompanhar tendências da atividade
Dados do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do Ministério da Educação, em 2012, mostram que o curso de Ciências Contábeis está entre as dez profissões mais desejadas do País. Com todas as mudanças ocorridas nos últimos anos, desde a implantação das normas internacionais e todas as inovações tecnológicas que vieram agregar o trabalho do profissional da contabilidade, as faculdades buscam se manter atualizadas a fim de formar um profissional capaz de atuar em mercado cada vez mais exigente.
Na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), o coordenador do curso, professor Saulo Armos, conta que houve uma mudança na linha pedagógica com o acréscimo de mais disciplinas práticas. Dos 16 encontros de uma determinada cadeira, quatro possuem a presença de empresários convidados, que contam como funciona o setor contábil na empresa que gerenciam. Dessa forma, justifica o professor, o aluno realiza estudos de casos.
A faculdade também observou que os alunos estão lendo cada vez menos livros em razão da internet. O jeito, explica o professor, foi fazer com que, a cada semestre, os estudantes tenham que ler duas obras dentro do contexto do estudo, e o conteúdo é cobrado em prova.
Armos é um otimista com o novo mercado, pois, segundo ele, os contadores mais antigos estão vendendo seus escritórios por não quererem se reciclar, e as empresas valorizam quem tem mais conhecimento. Mas ele reforça que é fundamental a especialização, inclusive para os professores, que também precisam se reciclar.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), o coordenador do curso, professor João Marcos Leão Rocha, também critica a imagem ainda impregnada no ambiente coletivo daquilo que ele chama de “contador darfista e gepesista”, uma referência a quem apenas preenche o Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf) e a Guia de Previdência Social (GPS). “A Ufrgs está voltada para um profissional gestor da contabilidade”, salienta. Para ele, se o contador não se adequar, não conseguirá se manter no mercado, deixando espaço para que outras áreas assumam esse lugar. Para estimular a reciclagem, a universidade incentiva os alunos a participar de laboratórios.
“Estamos fazendo monitorias, os professores estão mais próximos dos alunos ajudando a solucionar problemas práticos.”
O currículo dos cursos em todas as universidades, de acordo com Rocha, tem sido dinâmico. A Ufrgs oferece, em média, 270 horas de aulas técnicas, ou seja, 10% das atividades específicas estão voltadas para a prática. A Faculdade de Ciências Econômicas (FCE) da Universidade Federal é uma das instituições a adotar o Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal (NAF), programa em parceria com a Delegacia da Receita Federal do Brasil no Rio Grande do Sul. O projeto visa a oferecer suporte fiscal e contábil a pequenas empresas. Além disso, a faculdade oportuniza aos alunos a experiência em uma empresa júnior, que conta com a participação de professores da FCE. “Eles estão prestando serviços para empresas com orientação”, orgulha-se o coordenador.
Profissionais estão otimistas com a campanha de valorização
A campanha 2013: Ano da Contabilidade no Brasil, na opinião do contador, perito contábil judicial e administrador judicial Márcio Lavies Bonder, será de grande importância para a classe. No escritório Lavies, Perícia, Assessoria, Consultoria e Avaliações, o clima é de otimismo com a expectativa de que a valorização melhore ainda mais os negócios. “Acredito que será positivo para nós, mas não adianta tudo isso se não tivermos excelência profissional”, destaca.
Na área pericial, por exemplo, os advogados e juízes já sabem da importância de um contador, pelo menos, isso é o que Bonder sente na prática. Para ele, a paixão pelo trabalho é fundamental para realizar um serviço de qualidade.
No seu caso, o gosto pela profissão veio aos 17 anos, quando já tomava intimidade com a papelada pericial, no escritório do avô. “Eu folheava os processos e descobri que era isso que eu queria”, conta.
Apesar da influência familiar, Bonder tem consciência de que a faculdade proporciona um conhecimento genérico e, a especialização e o exercício do dia a dia fazem a diferença. Em 2013, por exemplo, ele estará encerrando mais uma etapa de sua vida, vai ganhar mais um diploma, o de bacharel em Direito. “Fiz outra faculdade para ajudar no meu trabalho e aumentar meus conhecimentos”, ressalta. “Se o empresário, advogado ou o juiz tiver profissionais qualificados, vão estar mais seguros”, acredita.
Entidades gaúchas darão suporte na afirmação da marca
Mesmo considerada uma das profissões mais valorizadas no País, a imagem do profissional da contabilidade ainda não está totalmente de acordo com a realidade e com o seu potencial. Para o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS), ainda existe, por parte da sociedade e até mesmo do empresariado, um desconhecimento da profissão e sobre o seu papel dentro da organização e da vida pessoal de cada um.
“Queremos mostrar a verdadeira função do contador e da contabilidade, utilizando toda mídia possível”, diz.
Segundo o presidente, a postura dos profissionais também precisa ser mudada, e cabe a ele mostrar suas capacidades para ser reconhecido dentro da instituição ou perante o cliente para quem presta serviço. “São várias questões que queremos elucidar”, explica Breda. Para ele, o reconhecimento financeiro será apenas uma das consequências. “A contabilidade está na vida de todos nós, do controle das finanças domésticas à rotina das organizações”, exalta, mas lamenta que a atividade ainda seja muito distorcida.
A visão da área financeira e de toda a empresa é um privilégio do setor. O contador, portanto, é o profissional mais bem informado sobre a organização que trabalha. No entanto, de acordo com Breda, pesquisas mostram que muitas empresas acabam tendo problema de continuidade por falta de visão estratégica e planejamento, pois o contador, acrescenta, é a pessoa capaz de dar esse assessoramento ao gestor para que a empresa não venha a fechar suas portas. “Muitas vezes, o empresário não tem essas informações à disposição, pois ele não utiliza corretamente o potencial desse profissional que pode lhe prestar esse serviço”, resume.
Para o presidente do Sindicato dos Contadores do Rio Grande do Sul (Sindiconta), Tito Celso Viero, o ano de 2013 será um marco para que a sociedade passe a ver a contabilidade como ciência. “Quando alguém diz que sua contabilidade está em dia, está se referindo a escrituração”, salienta. Para isso, o dirigente acredita no esforço coletivo de todas as entidades.
Fonte: Jornal do Comércio (RS)-20-02-2013
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